Uma das grandes características do nosso século assenta na tecnologia digital, pelo que não podemos alicerçar o grande pilar da sociedade que é a educação num sistema que a ela se alheie. Dizia Camões, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e, acrescentamos, as necessidades, pelo que o caminho terá de passar por uma simbiose significativa, eficaz e eficiente, entre o passado e o presente, o tradicional e o digital. As tecnologias digitais devem, pois, ser encaradas não apenas como meros instrumentos, mas enquanto potenciadoras da criação de um ambiente vivo num ecossistema educacional plural e diversificado. Esta conceção ganhou ainda mais sentido no momento em que decorreu este estudo, marcado pela pandemia da COVID-19, que obrigou toda a comunidade educativa a (re)inventar-se, no sentido de encontrar respostas de processos a distância para uma situação inevitável. É neste enquadramento que perspetivámos a elaboração de um estudo assente na dinamização, pela investigadora, de uma comunidade de prática virtual (CoPV), num agrupamento de escolas (AE), na plataforma MS Teams, como contexto associado a um processo de supervisão pedagógica com vista à promoção do trabalho colaborativo. A referida CoPV surge na sequência da oficina de formação MAIA (Projeto de Monitorização, Acompanhamento e Investigação em Avaliação Pedagógica), frequentada pela investigadora no ano letivo 2019/2020, e cujo produto final foi um projeto de intervenção no âmbito de práticas de avaliação a ser implementado no agrupamento de escolas onde a investigação ocorreu. Assim, temos como locus da nossa investigação um agrupamento de pequena dimensão, situado em meio rural, e como participantes no estudo todo o corpo docente desse mesmo agrupamento, constituído por 45 professores (excluída a investigadora), desde a educação pré-escolar (EPE) ao ensino secundário profissional (ESP). Assim, no estudo realizado, pretendeu-se compreender de que forma a participação na referida CoPV contribuiu, na perspetiva dos participantes, para o seu desenvolvimento profissional, enquanto contexto de interação e colaboração integrado num processo de supervisão horizontal, entre pares, concretamente no que diz respeito a práticas de avaliação. Pretendeu-se ainda averiguar a relevância do papel da investigadora, enquanto moderadora da CoPV, também na perspetiva dos participantes. A revisão bibliográfica foi, assim, orientada para as duas dimensões do estudo: por um lado, a supervisão horizontal, colaborativa, entre pares, assente em relações dialógicas e de partilha com vista ao desenvolvimento profissional docente (DPD); e, por outro lado, a forma como ela pode ser sustentada por uma CoPV, a qual se afasta dos contextos tradicionais em que decorre o processo supervisivo nas escolas. Tratou-se de um estudo de caso, enquadrado no paradigma interpretativo, pois teve como objetivo a compreensão de um fenómeno de acordo com a perspetiva e interpretação dos sujeitos participantes. Para o efeito, utilizaram-se diversas técnicas e instrumentos de recolha de dados: questionários, entrevistas semiestruturadas, diário de bordo e a própria CoPV. Tendo em conta que esta é uma área recente, pouco explorada/investigada, existindo um número limitado de estudos acerca da temática, esperamos que os resultados desta investigação possam vir a contribuir para uma maior compreensão do fenómeno em causa e servir de fonte, e também de inspiração, para futuros estudos e eventuais modelos de supervisão a implementar no agrupamento em causa ou noutros.

Como citar esta Dissertação:

Serrano, Sílvia (2023). Da supervisão à colaboração: uma comunidade de prática virtual. Dissertação de mestrado em Educação, especialidade em Supervisão Pedagógica, Lisboa: Universidade Aberta. http://hdl.handle.net/10400.2/15198