Capítulo 4 – O digital em práticas diferenciadoras
Autores: Isabel Clemente e Celina Santos
Palavras-chave: 1.º ciclo do ensino básico, digital, motivação, Síndrome de Down
Citação: Clemente, I. & Santos, C. (2023). O digital em práticas diferenciadoras. In M. Francisco, C. Tomás & S. Malheiro (Orgs.). 12 histórias educacionais: Ser diferente na diversidade. Práticas pedagógicas em contextos pouco visíveis. [Online]. LEAD, Universidade Aberta.
Do presencial para o online – adaptação de práticas diferenciadoras
A L.A. tem 13 anos e tem Síndrome de Down. Beneficia de apoios específicos ao nível da psicomotricidade, terapia da fala, psicologia, musicoterapia e apoio de professores de educação especial em Unidade Especializada. Aos 10 anos, após avaliação dos intervenientes educativos, foi decidida a sua integração em turma de 1.º ano de escolaridade, com redução de grupo, ao abrigo do Decreto-Lei N.º 10-A/2018, de 19 de junho, beneficiando do apoio de uma assistente operacional a tempo inteiro que a acompanhava em todas as atividades de sala de aula. Objetivos principais seriam a sua progressão nas principais áreas disciplinares, acompanhada de uma progressiva autonomia na execução das tarefas proporcionadas. Ao longo de três anos, o acompanhamento dos conteúdos, em termos dos ritmos e grau de dificuldade das aprendizagens, foi sendo cada vez mais diferenciado em relação à turma.
A partir do 3.º ano de escolaridade, decorrente da situação epidémica vivida no país e do E@D posto em prática durante esse tempo, a turma iniciou a participação num projeto do Agrupamento que tem como objetivos a utilização de equipamentos digitais em ambiente de sala de aula e criação de recursos digitais partilhados pelos alunos. Os materiais e os recursos disponibilizados e trabalhados, respeitam os utilizadores, suas características e ritmos de trabalho, indo ao encontro, tanto quanto possível, dos estilos de aprendizagem dos alunos. Tendo em conta o quadro da aluna, caracterizado por baixa visão, dificuldade de controlo da motricidade, transtorno da fala, TEA e trissomia 21, a L.A. tem vindo a realizar atividades digitais que consideram as suas necessidades e ritmo de aprendizagem, acomodando ainda as expetativas que a aluna revela.
As atividades são apresentadas em ambiente digital, um dia por semana, com base num plano inicial elaborado de forma colaborativa por todas as docentes envolvidas (professora titular, professoras de educação especial e professora de Inglês), a partir do qual a aluna acede às tarefas propostas para cada disciplina / área disciplinar. Estas atividades são, por vezes, complementadas com materiais extra e/ou manipuláveis e, não raras vezes, são resolvidas pela aluna ao longo de toda a semana, independentemente do espaço em que a aluna se encontre (sala de aula; Unidade Especializada e/ou residência).
Devido ao quadro já apresentado, o recurso a práticas em ambiente digital revela-se profícuo, atuando como fonte de motivação e progressiva autonomia da aluna, em todas as áreas envolvidas. Por outro lado, permite uma mais eficaz individualização do processo de aprendizagem da aluna e uma maior rapidez e eficácia de execução.
Os níveis de motivação da L.A. são bastante altos, sendo o Inglês a disciplina em que tem revelado maiores progressos e para a qual exibe grande potencial.
Todos os intervenientes educativos, são unânimes em afirmar que os resultados desta prática, excederam o esperado, pelo que a resolução de integrar os recursos digitais em mais momentos da prática semanal, será o passo seguinte. Consideram também uma mais-valia o progressivo conhecimento e autonomia verificados no manuseamento dos materiais digitais.
De salientar que, o trabalho conjunto dos intervenientes na planificação e construção do ambiente digital, foi fundamental para os resultados relatados.