Capítulo 12 – A mão ajuda a desenvolver o cérebro

Autoras: Maria João Carapinha e Inês Carapinha

Palavras-chave: percurso educacional, teoria das inteligências múltiplas, suporte familiar, paralisia cerebral

Citação: Carapinha, M. J. & Carapinha, I. (2023). A mão ajuda a desenvolver o cérebro. In M. Francisco, C. Tomás & S. Malheiro (Orgs.). 12 histórias educacionais: Ser diferente na diversidade. Práticas pedagógicas em contextos pouco visíveis. [Online]. LEAD, Universidade Aberta.

Ensinar a viver com – estratégias adequadas a cada etapa

A minha filha nasceu numa situação de anoxia grave, não se sabendo quais as sequelas que daí poderiam advir no seu desenvolvimento. Os primeiros sinais manifestaram-se por volta dos 6 meses de idade, em que não conseguia controlar o tronco. O diagnóstico inicial foi apenas um atraso motor por parte da Neuropediatria e aguardar o seu desenvolvimento. Por iniciativa própria, decidimos que teríamos de fazer algo para melhorar este atraso e o primeiro passo foi a “Natação para bebés” e por volta dos 9 meses, fisiatria. Houve, sem dúvida, evoluções na área motora.  Ao longo dos dois anos seguintes, ela continuava a apresentar muitas dificuldades a nível motor e a resposta era que teríamos de esperar a sua evolução; nessa altura recorri a diversos especialistas, mas em termos familiares incentivamo-la através da dimensão lúdica, continuando a natação e a fisioterapia, tentando que ela iniciasse a marcha. Mesmo caindo, o reforço positivo foi uma mais-valia para ela continuar a insistir. Após uma marcha mais consistente, o treino com a família passou pelo subir e descer escadas diariamente.

Outra das dificuldades prendia-se com a apreensão de objetos, o que demonstrava problemas na motricidade fina. Os jogos e brincadeiras que desenvolvessem esta dimensão foram uma aposta. Quero referir que a maioria destas estratégias foram implementadas quase de uma forma intuitiva, de acordo com as dificuldades com que nos deparávamos, pois não existia um diagnóstico médico concreto.  

Há, ainda a referir, as dificuldades a nível da linguagem. Neste aspeto o contributo da avó materna foi fundamental, visto que a sua relação de proximidade, a repetição de vocábulos, o recurso a lengalengas, histórias e canções faziam com que a minha filha tentasse aprender novas palavras, mas também numa dimensão lúdica adequada à sua faixa etária, quase de modo repetitivo.

Ora como afirma Vygotsky, a primeira função da linguagem na criança é social, ligada a criação de laços sociais, sendo um fenómeno de múltiplas funções, passando posteriormente para a egocêntrica e da comunicação (2007:82). A criança estabelece uma interação social com os adultos mediante a palavra portadora de sentido. Muitas vezes, o sentido das palavras para as crianças corresponde ao sentido estabelecido para elas da linguagem dos adultos, possibilitando assim a compreensão.

“A criança não escolhe o sentido da palavra. É-lhe dado através da interação verbal com os adultos. A criança não constrói livremente os seus próprios complexos. Descobre-os sob uma forma acabada no processo de compreensão de uma linguagem que não lhe é familiar.” (Vygotsky. 2007:178).

Somente aos três anos, a minha filha foi diagnosticada com paralisia cerebral espática bilateral, com componente atáxica, sendo encaminhada para a Terapia Ocupacional e a nível do ensino pré-escolar para a Educação Especial. Após um ano de Terapia Ocupacional, teve alta, pois considerava-se que não era possível mais evolução. Recorri por meios próprios para continuar a ter esse apoio e a nível familiar continuámos a estimulá-la a nível motor, da linguagem através de jogos, atividades, natação, fisioterapia, leitura, desenhos e pinturas.

Partindo do pressuposto que o nosso cérebro é um músculo e que pode ganhar competências, apesar de um dos hemisférios possuir lesões, o trabalho e o meu objetivo foi sempre acreditar que a minha filha através de um trabalho persistente poderia evoluir. Para isso, era necessário, incentivar a imaginação e a criatividade. A imaginação é antecipatória porque vai além do que é aprendido. A imaginação pode ser reprodutiva (ligada à memória) e criativa, ultrapassando-a. A imaginação, base da criatividade, revela os aspetos da vida humana. É ela que possibilita o desenvolvimento científico, artístico e tecnológico. No quotidiano, a criatividade é uma condição necessária para a existência humana e para transmutar os problemas e situações com que o ser humano se vai deparando.

Por outro lado, partindo da Teoria do Desenvolvimento Cognitivo de Piaget, sendo a inteligência um processo básico da vida que ajuda um organismo a adaptar-se ao meio ambiente, era premente apesar das suas dificuldades, a minha filha   construir novos entendimentos do mundo baseados nas suas próprias experiências, mesmo que isso implicasse alguma frustração de não conseguir obter os resultados pretendidos pela sua parte.

Com a entrada na escolaridade obrigatória, outros problemas surgiram como as dificuldades de aprendizagem, a leitura e a escrita.    Fui informada que a minha filha nunca iria conseguir escrever, por isso retomou a Terapia Ocupacional no Centro de Medicina Física e de Reabilitação de Alcoitão para aprender a escrever com recurso a Tecnológicas de Informação e Comunicação. No meu entender e do pai, considerámos que a nossa filha deveria, pelo menos, conseguir assinar o seu nome, assumindo que “o desenvolvimento da escrita ajuda o desenvolvimento do cérebro”. Assim, recusámos o uso do computador em sala de aula, apesar de praticar em casa e continuar na Terapia Ocupacional. A nossa filha começou a escrever, repetindo as letras várias vezes, fazendo cópias, usando cadernos que melhorassem a sua caligrafia. A nível do raciocínio lógico abstrato, teve sempre muitas dificuldades; no entanto, em casa fomos usando diversas estratégias para colmatar este problema, que veio a melhorar com a mudança de docente, mas quando a exigência dos conteúdos programáticos aumentou as dificuldades voltaram a acentuar-se, recorrendo a apoios extraescolares.

No 2.º ciclo, com um maior número de disciplinas e docentes, numa nova escola, o controle emocional da minha filha agravou-se; sem respostas a nível escolar, procurei um clínico especialista em desenvolvimento e foi-lhe diagnosticada com défice de atenção e concentração. Foi medicada até ao final do 3.º ciclo. Sendo que os seus níveis de atenção melhoraram, os resultados escolares também.

Após ter-se verificado que a minha filha possuía uma boa memória, outra estratégia encontrada para melhorar o seu rendimento escolar (devido ao esforço que tinha de fazer para executar resumos e esquemas dos conteúdos programáticos para estudar – escrita lenta e morosa), foi que estes últimos fossem elaborados por mim, sendo que ela os lia, principalmente em voz alta. Esta foi também uma das formas que encontrou para compreender melhor as matérias, sobre as quais eram colocadas questões oralmente por mim ou outro familiar, de forma a compreendermos se ela tinha consolidado as aprendizagens. Quero frisar que a minha filha tinha um acompanhamento diário em casa no planeamento dos estudos, da supervisão dos cadernos diários, trabalhos de casa para que o enfoque fosse conseguir ultrapassar as suas dificuldades, sempre com um reforço positivo.

Por outro lado, queria compreender as suas áreas fortes, pontos de interesse de forma a poder ajudá-la no seu desenvolvimento. Assim, baseando-me no contributo de Howard Gardner, A Teoria das Inteligências Múltiplas (1985), uma alternativa para o conceito de inteligência como uma capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos uma performance, em qualquer área, na medida em que este faz uma chamada de atenção à questão das crianças que não brilham nos testes padronizados, e que, consequentemente, tendem a ser consideradas como não tendo nenhum tipo de talento. Nesta perspetiva, a escola é, então, um dos locais privilegiados para reavaliar a importância do talento de cada criança e compreender a forma como esse talento se exprime de modo diferente em cada ser, encontrando novas opções curriculares, novos métodos, uma nova visão de escola, o que na maioria das vezes não acontece.

Devido às limitações que a minha filha possuía em diversos tipos de inteligência, tentei estimular as inteligências em que ela era mais forte, ajudando-a a atingir os seus objetivos de ocupação adequados ao seu espectro particular de inteligência, centrando-me no seu perfil e áreas de interesse.

De acordo com as áreas que fui identificando, a escolha a nível do ensino secundário foi pela via profissional, após uma análise cuidada do currículo de diversos Cursos Técnicos Profissionais. Após a sua conclusão, um novo obstáculo foram os exames nacionais, nomeadamente a indicação que se os resultados não fossem positivos seria uma frustração para ela. Acontece que insisti que ela os realizasse, independentemente dos resultados que poderia obter; pois na minha ótica qualquer indivíduo tem de lidar com a frustração e saber superá-la de forma a melhorar o seu desempenho, sendo a realidade e a vida real repleta de frustrações. Os resultados obtidos não foram positivos e enveredou-se por uma outra via: Curso Superior Técnico Profissional, sempre tendo em atenção o currículo do mesmo.

O apoio que dei à minha filha continuou a ser a aposta na sua formação, no planeamento do estudo, no acompanhamento dos conteúdos lecionados e no reforço positivo e motivacional para não desistir e atingir os seus objetivos. Este suporte emocional, motivacional e de reforço positivo foi e continua a ser muito importante no percurso escolar e académico da minha filha, pois ela ao longo do seu caminho já ouviu muitos “não”, “não consegues”, “não és capaz”, “não tens perfil”. E cabe, a nós, família, motivá-los e eles saberem que acreditamos nas suas potencialidades, pois a sua forma de fazer, de aprender e até de ser pode ser diferente, mas conseguem atingir os seus objetivos se souberem que existe alguém que acredita neles. Para estas crianças e jovens, a dimensão emocional é muito importante, superando até as capacidades de inteligência cognitiva que possam ter ou não.

A decisão sobre a Licenciatura a realizar passou pelo mesmo crivo que a escolha dos cursos anteriores, sabendo a minha filha as suas áreas mais fracas. Ao longo da licenciatura foi bem aceite pela Instituição de Ensino Superior, apoiada pelo corpo docente, os quais a direcionaram para as suas áreas mais fortes e vocação. Enquanto mãe, continuei a dar-lhe o reforço positivo, a orientá-la, dar-lhe sugestões; mas acima de tudo a trabalhar a sua autonomia quanto à vida quotidiana e ao seu futuro.

Atualmente, a minha filha está a frequentar o último ano do Mestrado de Educação Especial, domínio Cognitivo e Motor com o intuito de ajudar crianças e jovens com dificuldades de aprendizagem e deficiência a ultrapassarem as dificuldades que ela passou e a integrá-los na sociedade, fazendo a ponte com a sua licenciatura – Educação Social.

Para além do referido, os estilos de aprendizagem que optei de acordo com perfil da minha filha foi o auditivo; a leitura e a escrita (apesar dela ter um discurso disártrico, lentificado) e cinestésico, mediante a repetição de exercícios, atividades de caráter lúdico, demonstrações para ela repetir com instruções objetivas, nomeadamente esta última no que diz respeito às suas atividades quotidianas e básicas, como higiene pessoal, arrumação do seu espaço, colaborar nas tarefas de casa, responsabilização pelos animais domésticos, entre outros.

Uma forma que a minha filha encontrou para lidar com o seu lado emocional foi através da escrita, a qual foi estimulada ao longo dos anos, de forma a trabalhar as suas emoções, mas também a sua criatividade, visto que sem a dimensão emocional é impossível existir um comportamento saudável que é a base da vida de qualquer indivíduo para que possa construir a sua vida de uma forma sólida e construtiva, como participar ativamente na comunidade em que está integrado. A escrita proporcionou-lhe dar a conhecer a sua experiência pessoal enquanto pessoa com paralisia cerebral e partilhá-la com outros jovens, levando a mensagem da importância do autoconhecimento, da resiliência e de acreditarem nas suas potencialidades.

Por último, quero salientar que desde que a minha filha tomou consciência de si mesma e do seu corpo sempre lhe transmiti que tinha paralisia cerebral e nunca lhe ocultei esse facto, pois na minha ótica ao conhecermos as nossas limitações é o ponto de partida para a autoaceitação, para a resiliência e para conseguirmos enfrentar de uma forma consciente os obstáculos com que nos deparámos, sejam eles físicos, cognitivos, culturais e sociais, nomeadamente no que diz respeito ao estigma, ao preconceito e à exclusão de que são alvo.

Bibliografia:

GARDNER, Howard, KORNHABER, Mindy & WAKE, Warren. (2003). Inteligências múltiplas perspetivas. Porto Alegre: Artmed Editora.

PIAGET, Jean. (1977). O Desenvolvimento do Pensamento. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

VYGOTSKY, Lev. (2007). Pensamento e Linguagem. Lisboa: Relógio D’Água

Aprender a viver com – descobrir novas estratégias

Ao longo do meu desenvolvimento foram aplicadas diversas estratégias, metodologias de acordo com as minhas fases de desenvolvimento e à medida que as dificuldades e problemáticas iam surgindo estas foram-me adaptando para superar os obstáculos que enfrentava.

Numa fase inicial, nos primeiros três anos de vida até ser diagnosticada a paralisia cerebral, pois até então o diagnóstico era um atraso motor, a minha família deparou-se com as dificuldades que eu possuía em manter o tronco direito como a cabeça, apostando assim por conta própria na “Natação para Bebés”, com significativas melhorias após os primeiros meses. Aperceberam-se das minhas dificuldades em agarrar objetos, brinquedos, reforçando a parte lúdica.

Comecei a tentar andar aos dois anos e meio, sempre com o reforço positivo da minha família, mesmo caindo diversas vezes, levando-me para locais sem obstáculos para que conseguisse proceder a uma marcha, sem que me pudesse magoar. Com esse incentivo e reforço positivo, fui melhorando a minha marcha com ajuda e posteriormente, insistindo diariamente na subida e descida de escadas, que ainda hoje tenho alguma dificuldade.

Por outro lado, a nível da fala ao detetarem as minhas dificuldades, a aposta foi reforçar a comunicação, onde a minha avó materna teve um papel fundamental, visto que apostava num diálogo constante comigo, contando lengalengas, incentivava-me a cantar e a repetir palavras.

A paralisia cerebral foi-me diagnosticada aos três anos de idade, pelo Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão onde fiz durante um ano Terapia Ocupacional. Continuei fora do contexto médico a praticar natação e, posteriormente no colégio, Ballet e ginástica.

Na altura, as maiores dificuldades que sentia eram motoras e na fala, comparando-me com os meus colegas de colégio no ensino pré-escolar. Há a referir que a nível familiar, incentivavam-me a desenhar, a pintar, a fazer plasticinas e enfiamentos para melhorar a minha motricidade fina. No entanto, foi à entrada no 1.º ciclo que surgiram os maiores desafios, nomeadamente a nível da aprendizagem, da leitura e da escrita. Nesta altura, o Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão, encaminhou-se para a Terapia Ocupacional com apoio de tecnologia, visto que julgavam que eu nunca ia conseguir escrever.

No entanto, os meus pais partindo do pressuposto de que “a mão ajuda o desenvolvimento do cérebro”, insistiam para que eu conseguisse “pelo menos” assinar o meu nome. Com treino para além de assinar o meu nome, comecei a escrever, redigindo cópias não apenas no tempo escolar, mas fora dele, inclusive nas interrupções letivas, tentando melhorar a minha caligrafia. E assim, sempre ao longo do meu percurso escolar e académico redigi os meus apontamentos, trabalhos e testes, embora num ritmo mais lento.

Devido às minhas dificuldades motoras, os meus desenhos e trabalhos de caráter manual sempre foram mais “infantilizados” para a minha faixa etária; no entanto, a minha família sempre apostou que eu continuasse a desenvolver esta parte, mesmo para o desenvolvimento da dimensão da imaginação, tão importante nas crianças.

Outra dificuldade que tive e ainda possuo, prende-se com o raciocínio lógico matemático, em que me é difícil ter um determinado grau de abstração, apesar da dimensão lúdica que a minha família sempre me apresentou para o desenvolver.

Na escola, devido às minhas dificuldades, muitas das vezes, era colocada de parte e não havia um trabalho individualizado de acordo com as minhas necessidades.

A paralisia cerebral afetou, igualmente, o meu controle emocional, passando repentinamente para estados de euforia, o que comprometia o meu comportamento em sala de aula. Nesse sentido, fui encaminhada para consultas de Psicologia, sem resultados aparentes.

A entrada no 2.º ciclo, veio aflorar outros problemas, uma escola nova, várias disciplinas e docentes. O meu comportamento piorou, sendo que a minha mãe procurou ajuda e foi-me diagnosticada défice de atenção e concentração num nível bastante elevado, tendo sido medicada até ao final do 3.º ciclo.

Até ao 3.º ciclo, a aposta da minha família foi sempre melhorar a minha parte motora com natação, fisioterapia, jogos que desenvolvessem a motricidade fina, desenhar, pintar, etc. A nível da aprendizagem, tive um acompanhamento diário e constante por parte da minha mãe na elaboração dos trabalhos de casa, supervisão de cadernos diários, planeamento do estudo e reforço dos conteúdos programáticos que tinha mais dificuldade, apostando nas áreas que me manifestavam mais interesse, nomeadamente a História e a Geografia.

Por outro lado, mediante testes psicológicos, detetou-se que eu tinha uma boa memória, sendo que a elaboração de resumos manualmente acabava por me cansar e posteriormente, já não ter disponibilidade intelectual para reter mais informação. Assim, a minha mãe elaborava os resumos e eu estudava, sendo muitas das vezes lidos em voz alta para uma maior interiorização e feitas questões para eu responder, oralmente, para verificar que conteúdos tinham sido compreendidos.

Após o términus do 3.º ciclo, conhecendo as minhas áreas mais fracas (Motora e o raciocínio lógico matemático), a minha mãe fez uma pesquisa para verificar que cursos poderiam ir de encontro às minhas potencialidades e interesses. Nesse sentido, optei pelo Curso Técnico Profissional de Turismo, cujas maiores dificuldades se prenderam com as línguas estrangeiras – inglês. Com o mesmo tipo de apoio familiar a nível escolar, terminei o Ensino Secundário, sendo que o meu Projeto de Aptidão Profissional se debruçou sobre o “Turismo Inclusivo”.

Na altura, apercebi-me que as minhas dificuldades a nível da escrita eram de caráter disléxico, que não foram sinalizadas no 2.º ciclo e que acabaram por comprometer os exames nacionais; visto que muitos jovens que possuem deficiência que compromete a parte cognitiva, não são sinalizados devidamente com dislexia, sendo os seus problemas a nível de escrita remetidos somente para a patologia que possuem.

Sendo que os exames nacionais são padronizados não tendo em conta as aptidões e as áreas fortes que nós enquanto estudantes com necessidades educativas possuímos; no meu caso, como os resultados não foram positivos, acabei por optar por um Curso Técnico Superior Profissional dentro das minhas áreas de interesse e que ultrapassasse as minhas maiores dificuldades. No entanto, deparei-me com a questão de que as instituições de Ensino Superior ainda não estão totalmente preparadas para receber alunos como nós, quer a nível da adaptação curricular, quer a nível de avaliação e sobretudo na aposta das nossas áreas mais fortes que ultrapassam a inteligência a nível cognitivo. A orientação familiar, o planeamento do estudo, as sugestões e as orientações da minha mãe a nível do estudo foram fundamentais.

Após o último estágio, descobri que o meu sonho de ser Educadora de Infância era impossível de se realizar, devido às minhas dificuldades motoras e de raciocínio lógico-matemático e optei pela área social.

Licenciei-me em Educação Social, numa instituição onde me senti verdadeiramente integrada e apoiada; em que os docentes me encaminharam para a área em que possuía mais potencialidades. A nível familiar, a aposta foi sempre acompanhar-me no planeamento dos estudos, dar-me sugestões, apoiar-me nas minhas decisões e encaminhar-me nos domínios em que possuo mais aptidão.

Devido às dificuldades sentidas ao longo do meu percurso escolar e académico, tendo identificado diversas fragilidades no que concerne ao apoio e trabalho a nível das escolas para com os alunos com Necessidades Educativas Especiais, optei por realizar o Mestrado em Educação Especial, domínio cognitivo e motor para ajudar, apoiar e apostar no desenvolvimento de crianças e jovens com deficiência e que passam pelas mesmas dificuldades que eu passei.

A aposta no domínio da imaginação e da criatividade e com o incentivo da minha mãe, escrevi um livro “Sentires Especiais”, em que relato a minha experiência pessoal, levando essa mensagem mediante palestras a escolas.

Por último, gostaria de frisar que o facto da minha família nunca me ter ocultado, desde muito cedo, que tinha paralisia cerebral, contribuiu para me conhecer melhor, compreender as minhas dificuldades e limitações e não desistir de superá-las, mesmo perante todos os obstáculos com que me deparei.

Neste momento, o meu maior desafio é a inserção no mercado de trabalho, com o qual continuo a contar com o apoio, orientação e persistência da minha mãe que tem como lema: “Nunca desistir!”