Capítulo 3 – Tecnologia inclusiva: o uso da caneta leitora

Autor: Clara Rodrigues

Coautor: Sónia Tomé

Palavras-chave: 1.º ciclo do ensino básico, tecnologia, caneta digital, dificuldades de leitura

Citação: Rodrigues, C. & Tomé, S. (2023). Tecnologia inclusiva: o uso da caneta leitora. In M. Francisco, C. Tomás & S. Malheiro (Orgs.). 12 histórias educacionais: Ser diferente na diversidade. Práticas pedagógicas em contextos pouco visíveis. [Online]. LEAD, Universidade Aberta.

A aluna Bianca Tomé quando entrou para o primeiro ano era uma criança meiga, mas imatura e com pouca responsabilidade. Dependia muito dos adultos e/ou dos colegas para se manter focada nas tarefas que lhe iam sendo propostas, pois distraía-se muito facilmente e brincava com tudo o que tivesse à mão. A sua evolução nas aprendizagens era muito inconstante e, por vezes, fazia regressões. Chorava facilmente quando era confrontada com um “problema” ou uma situação nova ou inesperada. Ainda durante este ano beneficiou de apoio educativo, mas as suas dificuldades mantinham-se. No ano seguinte, além de se manter o apoio educativo, a professora de Educação Especial também foi fazendo algumas observações. Em equipa educativa foram discutidas e implementadas diversas formas de intervenção, ao abrigo do Decreto-Lei 54/2018: Apoio educativo – Projeto Fénix (desde o 1.º ano de escolaridade); Apoio o mais individualizado possível por parte da professora titular de turma; tutorias realizadas pelos pares. Como muitos dos seus problemas se mantinham ou até se iam acumulando/ agravando, por exemplo, continuava a apresentar muitas dificuldades na leitura e escrita (tendo começado a revelar maiores dificuldades quando se introduziram os casos de leitura, mantinha uma leitura ainda muito hesitante e uma escrita lenta e pouco espontânea); manifestava uma falta de autonomia nas pesquisas; mantinha a dificuldade em intervir de forma autónoma (sem ser solicitada); continuava a ser uma criança imatura e com pouca responsabilidade, que se distraía facilmente, que era pouco persistente e muito dependente dos adultos e/ou colegas para realizar as suas tarefas, resolveu-se fazer um pedido de referenciação à Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva (EMAEI). Após a avaliação, a Bianca começou a beneficiar não só de medidas universais, mas também de medidas seletivas. 

Durante o seu percurso escolar foram implementadas diversas estratégias e utilizadas várias ferramentas: a régua de leitura (que a ajudou a focar-se na linha que estava a ler) e mais tarde a caneta leitora. Ao utilizar a caneta leitora, a Bianca adquiriu com facilidade e rapidez o seu modo de funcionamento e usufruiu de toda a sua mais-valia. Notou-se um grande progresso na sua aprendizagem, tendo-se tornado mais confiante e autónoma. Ao conseguir ler e interpretar melhor os textos que lhe eram apresentados, conseguiu evoluir não só na disciplina de português como nas outras disciplinas (estudo do meio e matemática), mas também nos trabalhos de pesquisa. 

Resultados visíveis

A prática com a caneta de digitalização correu bem, uma vez que a Bianca tinha muitas dificuldades na leitura, desde seguir as linhas corretas, às pausas e separações das palavras. Mas adaptou-se muito bem pois as crianças agora estão muito aptas à eletrónica e às novas tecnologias. Ela também tinha outros mecanismos de ajuda que lhe foram facultados pelas professoras, desde grelhas com todas as letras manuscritas a um adaptador para tapar as linhas em cima e em baixo no texto, e seguir a linha correta.

No início da aprendizagem escolar, a Bianca teve muita dificuldade na conjugação de alguns sons e as respetivas letras, pelo que ainda hoje troca algumas letras e coloca erros na escrita porque não memorizou a sua correta colocação, o que a desmotivou constantemente ao longo do seu curto percurso escolar, mas comparativamente ao início já apresenta bastantes melhorias.

Com a prática dessa caneta de digitalização para a leitura, ela aprendeu a seguir mais as linhas na leitura de textos mais compridos, que é a sua maior dificuldade ainda agora, e a ouvir melhor os sons corretos das letras e palavras específicas, o que a leva a ir corrigindo e assimilando melhor a escrita das palavras corretamente, logo vai tendo mais confiança.

É realmente uma mais-valia na aprendizagem e uma grande ajuda na leitura individual, pois acaba por dar à criança independência e uma visão mais correta da leitura de um texto e ela não se perde tanto no raciocínio e na lógica. Mas continuamos sempre a incentivar a leitura normal, sem ajuda, e a escrita também, para ir ganhando cada vez mais aptidões individuais.

As maiores dificuldades que fomos encontrando, uma vez que ela experimentou o software, tanto em computador portátil como no tablet, foram que no computador ela só conseguia ir colocando e ouvindo frases mais curtas e perdia-se um pouco no seguimento da leitura. No tablet ela não tem esse problema, pois fica tudo no mesmo texto e documento, e ela consegue ouvir melhor.

Mas um dos maiores problemas sentidos foram as ligações à internet, pois se a ligação não for suficiente e forte, o software já não funciona tão bem, indo abaixo muitas vezes, e ela fica mais estressada com a situação, pois não consegue acompanhar a aula.

Desde que tenha uma ligação forte (por cartão, ou um hotspot, ou até WiFi em casa) esse problema não se verifica, mas se tentar ligar o tablet, por exemplo ao WiFi da escola, onde o sinal é muitas vezes insuficiente, já não consegue.