Sobre o projeto WAY

O projeto segue a tendência que os tempos atuais exigem aos sistemas educativos, de alunos mais bem preparados, ativos e participativos e capazes de recorrer competências metacognitivas para autorregular a sua aprendizagem [1]. A promoção dessas competências requer uma mudança para práticas pedagógicas diferenciadas e inovadoras, personalizadas de acordo com as necessidades dos alunos, tendo em consideração o seu feedback [1]. Esse guarda-chuva comum articula as pesquisas anteriores das investigadoras da equipa sobre desenvolvimento de competências de pensamento crítico [2], autonomia dos alunos [3], observação por pares [4], e voz dos alunos [5]. Não obstante as escolas portuguesas se esforçarem para promover práticas pedagógicas para desenvolver essas competências e a participação dos alunos, esses esforços não contemplam a proposta em que assenta o projeto, que relaciona a observação dos pares com o desenvolvimento da competência de autorregulação das aprendizagens, ao mesmo tempo que procura proporcionar oportunidades para a participação dos alunos na mudança das práticas pedagógicas. Se por um lado, a observação dos pares pode desenvolver eficazmente a observação, a reflexão e a autoanálise, capacitando os alunos para aprendizagens autorreguladas, por outro lado, pedir-lhes que deem feedback ao professor sobre o que observaram, cria momentos de participação e de diálogo centrados nas atividades da sala de aula, permitindo ouvir a voz dos alunos.

Esta é a abordagem inovadora que o WAY pretende seguir, e que tem por base intervenções e projetos anteriores da equipa [4;6;7], que se foram desenvolvendo em sucessivas iterações de ciclos contínuos de conceção, análise e avaliação de Design Based Research (DBR). Opta-se pela DBR por se pretender estudar um ambiente de aprendizagem específico, que evolui ao longo de várias iterações, e desenvolver novos artefactos, práticas e respetiva sustentação, generalizáveis para outros ambientes de aprendizagem [8]. Por conseguinte, assume-se esta intervenção como mais um ciclo de DBR, ao qual se pretende dar continuidade com ciclos posteriores. Em suma, com o projeto pretende-se desenvolver um programa de observação dos pares em sala de aula com alunos das escolas parceiras, para estudar a sua contribuição para o desenvolvimento das competências de autorregulação das aprendizagens e para proporcionar oportunidades de participação dos alunos na mudança das práticas pedagógicas.

Os objetivos específicos são:

  • Validar e aplicar um questionário para avaliar as competências de autorregulação das aprendizagens;
  • Implementar o programa de observação dos pares;
  • Monitorar as competências de autorregulação das aprendizagens dos alunos e a sua perceção quanto às oportunidades de participação proporcionadas;
  • Validar o programa de observação dos pares para o desenvolvimento da competência de autorregulação das aprendizagens;
  • Avaliar o potencial do programa para proporcionar oportunidades para a participação dos alunos na mudança das práticas pedagógicas;
  • Disseminar junto da comunidade educativa, o programa, partilhando os produtos do projeto.

As hipóteses nas quais o projeto assenta são:

  1. Os alunos que observam como os colegas abordam e realizam tarefas em sala de aula, desenvolvem competências de autorregulação;
  2. A conscientização e reflexão dos alunos sobre o que observam contribui para o desenvolvimento das suas competências de autorregulação;
  3. O ato de dar feedback aos professores sobre o que é observado, é percecionado pelos alunos como uma oportunidade para a sua voz ser ouvida;
  4. O programa de observação dos pares é uma estratégia educativa viável, com potencial para ser utilizada noutras escolas.

Adicionalmente à prossecução dos objetivos e verificação das hipóteses, com alunos do ensino secundário, procuraremos avaliar a viabilidade da observação dos pares com alunos do 3.º ciclo do ensino básico, também numa perspetiva de ciclos contínuos de DBR, e com o intuito de, futuramente, alargar o programa a alunos mais novos, acreditando que uma maior autorregulação das aprendizagens poderá ser benéfica na transição para o ensino secundário [9].
O projeto tem como atores os quatro Agrupamentos de escolas parceiras, situados em diversos locais do litoral e do interior, rural e urbano, do norte e centro de Portugal, bem como a equipa de investigadoras de três Universidades portuguesas, e que trazem para o projeto a complementaridade dos assuntos que têm investigado.



1- OECD (2018). The Future of Education and Skills: Education 2030. The Future We Want. Position paper published on 05-04-2018. OECD: OECD
2- European Commission (2019). Key competences for Lifelong Learning. Luxembourg: Publications Office of the European Union
3 – Duarte, Marina, Leite, Carlinda, & Mouraz, Ana (2016). The effect of curricular activities on learner autonomy: the perspective of undergraduate mechanical engineering students. European Journal of Engineering Education, 41, 91-104
4 – Mouraz, A., Torres, A. C., & Coelho, Z. (2017) Questões epistemológicas e pedagógicas da observação de pares. [Epistemological and pedagogical questions concerning peer observation]. In A. Mouraz & J. P. Pêgo (Orgs.). De par em par na U.Porto (pp.19-34). Edições da Universidade do Porto.
5 – Pereira, F., Mouraz, A., & Figueiredo, C. (2014). Student Participation in School Life: The “Student Voice” and Mitigated Democracy. Croatian Journal of Education: Hrvatski časopis za odgoj iobrazovanje, 16(4), 935-975. https://doi.org/10.15516/cje.v16i4.742
6 – Mouraz, A. & Ferreira, I. (2021). Contributions of Multidisciplinary Peer Observation to Lecturers’ Reflective Practices. Journal of Interdisciplinary Studies in Education, 10(1), 41–58. https://www.ojed.org/index.php/jise/article/view/1369/1537
7 – Torres, A. C., Lopes, A., Valente, J. M. S., & Mouraz, A. (2017) What catches the eye in class observation? Observers’ perspectives in a multidisciplinary peer observation of teaching program. Teaching in Higher Education, 22(7), 822-838. https://doi.org/10.1080/13562517.2017.1301907
8 – Nobre, A., Mallmann, E., Mazzardo, M., & Martin-Fernandes, I., (2017) Princípios teórico-metodológico de design based research (DBR) na pesquisa educacional tematizada por Recursos Educacionais Abertos (REA) [Teorethical and methodological principles of design based researchapplied to educational research within open educational resources environment]. Revista SanGregorio, ISSN 2228-7907
9 – Torres, A. C., & Mouraz, A. (2015). Students’ transition experience in the 10th year of schooling: Perceptions that contribute to improving the quality of schools. Improving Schools, 18(2), 127–141. https://doi.org/10.1177/13654802